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Pe.Javier Garralda Vs Pena de morte no Japão

 

Padre Javier Garralda (89 anos) -Nascido na Espanha em 1931, Veio ao Japão como missionário e serviu como professor na Universidade de Sofia (Tokyo-Chiyoda).  Entre seus livros, é autor de “Amor próprio e Egoísmo - jjiko’ai to egoisumu/自己愛とエゴイズム”  Em 2018 recebeu a medalha “Ordem do Tesouro Sagrado, Raios de Ouro com Roseta- Suihou Shoujushou/瑞宝小綬章” 


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Desde 1994 frequenta o presídio de Fuchu-Tokyo ministrando aulas aos prisioneiros estrangeiros que falam o idioma espanhol e inglês. A partir de 2000 passou a falar com japoneses condenados ao “corredor da morte” na cadeia de Kosuga - Tokyo.



-----Que tipo de conversa V.Revma. tem com os condenados à morte?


Eles dificilmente recebem visitas de amigos e familiares. Raramente podem conversar com pessoas e 1 vez por mês aguardam ansiosamente, minha visita de 30 minutos. Conversamos à respeito de Deus e filosofia.

às vezes me perguntam: “O que acontece depois que eu morrer?” Temos conversas muito profundas. Alguns mostram muito conhecimento em história. Quando pergunto a razão de tanto interesse em história antiga, eles respondem: “Porque para mim não há futuro.”


---- Todos se arrependem de seus pecados?


Eu não pergunto que tipo de crime eles cometeram. Eles também não entram em detalhes, então basicamente eu não sei. Mas enquanto conversamos, sinto que o coração deles fica mais limpo. Quando eles vem conversar comigo, trazem uma bíblia e um bloco de anotações e se empenham em escrever a palavra de Deus. Eles lêem muitos livros, raciocinam muito , por isso têm muitas perguntas incisivas. Eu também aprendo muito. Sinto que eles estão arrependidos e se convertendo...



--- Vsa.Revma.  participa das execuções?


Quando há execuções, sou avisado na noite anterior. Perguntam: “Amanhã é dia de execução, Vsa. Revma. pode comparecer?”. É algo que aconteceu há mais de 10 anos atrás, mas de manhã, antes da execução, rezei uma missa com ele. Ele estava muito calmo, lemos a bíblia, conversamos por cerca de 5 minutos. Então após agradecer e pedir perdão a todos ali, atravessou a porta. Minutos depois fui realizar uma rápida “exéquias” no corpo.



--- Dentre os países desenvolvidos, o Japão é um dos poucos que possuem a “Pena de morte”. Muitas pessoas apoiam esse sistema...


 É um problema muito difícil. Com certeza eles receberam essa sentença de morte pelo mal que fizeram. Mas porque o país tem que tirar suas vidas? Muitas pessoas podem pensar que os condenados á morte desejam morrer logo, porque estão vivendo na solitária, sem poder conversar. Mas a realidade é diferente. Todos querem viver. Tinham pessoas que ansiavam pelo perdão, e pessoas que desejavam viver, mesmo que não saíssem da prisão a vida inteira. Penso que deveria parar com o sistema da pena de morte.



-----Se pensarmos nos sentimentos das vítimas, existem vozes que dizem ser necessárias o sistema da pena de morte. 


Mas isso não seria o mesmo que vingança?  Podemos ficar calmos por um tempo com vinganças, mas no seu profundo acredito que não nos acalmamos. Porque o sistema da pena de morte mata as pessoas, e caímos na mesma situação deles (condenados). Na verdade não desejamos odiar as pessoas, queremos amá-las. A execução não cura partes profundas do coração nem é remédio que cure o sentimento das vítimas. Entretanto, o fato de perdoar não acalmaria o coração?



-----Você pode perdoar a outra pessoa, mesmo que o seu filho amado seja morto?


Perdoar é uma coisa muito difícil. Mesmo que emotivamente não se possa perdoar, não se deve procurar a vingança. É possível sim, conseguir não desejar a desgraça e o fracasso da outra  pessoa. O importante não é o ato da vingança, mas que aquela pessoa possa ser feliz em algum lugar longe e desconhecido. Eu mesmo tenho que cortar esses grilhões do dano.


-----61 anos no Japão. Vsa.Revma. percebeu mudanças na espiritualidade dos nipônicos?


De início quando cheguei no Japão podia observar pela janela dos trens, pequenas e humildes casas feitas de madeira. Hoje o enriquecimento é incomparável, mas as diferenças também são evidentes. Podemos sentir a valorização de que “O dinheiro é tudo” . As pessoas que conseguem ganhar dinheiro são incríveis. Não tem jeito, as outras pessoas que não conseguem são desvalorizadas. Avaliamos as pessoas pelas posses e não por seu coração.


------ Tem coisas que não mudaram ?


Sim. A conduta correta, guardar a estrutura social. Penso que são boas coisas. Só que dão muita importância as regras sociais e organizações, sem ver a individualidade, e muito duros com aqueles que a extrapolam. As regras existem para as pessoas, e não as pessoas existirem para as regras.


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