Carro alagado

Basta uma pancada de chuva na cidade e os principais pontos de tráfego ficarem alagados. Quando isso acontece, lógicamente você gostaria de estar no cantinho aconchegante do seu lar, mas está no trânsito, ou melhor, no congestionamento. E , na pior das hipóteses, dentro do seu veículo no ponto de alagamento.E aí?
Pergunta:  Encara atravessar um pequenino trecho alagado?
Resposta: Os homens encaram.  As mulheres não.
Pergunta: Porque as mulheres não encaram? É medo?
Resposta: Não pode-se afirmar que prudência e sentimento de auto-preservação seja considerado medo.
Pergunta:  Mas muitas mulheres tiveram seu veículo inundados pela enchente
Resposta: Disse bem. Tiveram seus veículos inundados. Isso não quer dizer que tentaram atravessar trechos alagados.
Pergunta: Os homens encaram porque são menos prudentes e mais corajosos?
Resposta: Porque são burros; Não há explicação lógica para tal atitude. Ele vê um caminhão passar e vai atrás. Só que está dirigindo um Corsa. Aliás, Corsinha rebaixado. E na traseira desse corsinha rebaixado vem mais duas bestas, não o veículo,  mas o espécime besta. E vem todos colados um na traseira do outro. O motorista do corsinha pensou que o caminhão faria uma onda para os lados e poderia atravessar aproveitando o vácuo. Assiste muita Fórmula-1 e tem a mania de tunar o carro. Rebaixou o carro, mexeu no motor, mexeu no escape.  Dá para imaginar o que vai acontecer.
A besta que veio atrás dele, pensou: -Se aquele Corsinha rebaixado passa, o meu Fiesta passa folgado! Nem sequer chegou a pensar: Vou esperar para ver se ele vai até o fim.! Colou o seu carro na traseira do Corsa
A terceira besta, já é mais uma vítima das circunstâncias do que própriamente uma besta. Viu aquela frota toda entrando n'água e foi também. É "Maria vai com as outras".
Só o caminhão passou.
O resto ficou ali no alagado, e as águas continuaram subindo, até atingir o painel do Corsa.

Pergunta: Estes motoristas adimitem que foram imprudentes?
Resposta: Não, absolutamente não! Abaixo estão as causas prováveis do acidente

a) Do motorista do Caminhão super-carregado que passou a 5km por hora e não fez ondas para os lados
b) Do DSV que não sinalizou a valeta, e como consequência ocasionou na entrada de água pelo escape do Corsa rebaixado
c) Do Estado e da Prefeitura, que negligenciaram a administração do sistema de drenagem da cidade
d) Dos malcriados nefastos que jogam o lixo lá na periferia, entupindo os bueiros e provocando essas inundações nos bairros, atravessando o Centro,  até as marginais dos rios da Cidade
e) São Pedro
f) Da Água H2O + sujeira
g}Do "amarelinho" da C.E.T. que nunca estão nesses locais, nessas ocasiões, para sinalizar e desviar o transito.

Esse é o estopim, ou a ponta do iceberg para o efeito dominó de burrices, imbecilidades e infantilidades que o homem faz para restaurar o seu carro inundado por uma enchente...

1.1- Chamar o seguro - Se tiver, vai precisar de muito chaveco para convencer o corretor e vistoriadores de que é possível acontecer pelo menos uma vez em um milhão de anos, um congestionamento de apenas um, dois ou três carros, desde que o carro dele não seja o primeiro, nem o último. Neste mundo tudo é possível.. Ou poderá argumentar que de todos os carros fictícios presos ali no congestionamento, só o carro dele tinha seguro.

1.2- Chamar o guincho - Vai tentar virar o motor primeiro, com aquele amigo que entende de tudo um pouco. Se o motor travar, nem vai concluir que tomou um tremendo prejuízo querendo economizar no guincho.Vai obrigar esse amigo que entende um pouco de tudo a rebocar com o carro dele, ou com o carro do amigo do amigo dele, que geralmente é um fusquinha.

1.3- Reparos na mecânica - Vai negociar um serviço meia-boca e vai perder tempo procurando peças em desmanches. Vai ter sua segurança ameaçado pelos funcionários da oficina. Não só a integridade física como sua integridade moral e o bom nome de sua mãe serão ameaçadas. Do propietário da oficina, pode-se esperar a cobrança de estadia do carro parado, ocupando vaga preciosa de clientes menos chatos e mão-de-vaca.

1.4- Reparos elétricos - Só vai repor por novos, o som MP3 e DVD-Player. Alguns fusíveis e talvez as velas. O resto vai recondicionar, deixar assim mesmo, ou comprar genéricos a base de troca.

1.5- Limpeza e higienização do veículo. - Ouviu dizer que basta deixar o carro todo fechado no sol por vários dias que o calor forte seca e desinfeta tudo. Só ouviu,  porque além de burro, sofre de amnésia e não consegue se lembrar da besta que falou essa idiotice, e muito menos se lembrar de que uma galinha morta no sol apodrece primeiro que uma galinha morta na neve. Depois de constatar que ouviu dizer, não dá certo fazer, vai querer dar um banho de perfume "cheirinho de carro novo" para disfarçar o cheiro de cachorro molhado.

2.0- Descobrir tardiamente que é hora de passar o carro prá frente, de preferência para alguém muito trôuxa.
2.1- Descobrir que é fácil encontrar alguém tão trôuxa como ele, mas é quase impossível encontrar alguém mais trôuxa do que ele.

Nessa altura do campeonato, ele já admite que fez duas besteiras:
a) De confiar em mecânicos
b) De confiar em auto-elétricos

Reparem que nós homens, jamais adimitimos que fizemos burrice. Sempre justificamos e colocamos a culpa em alguém.

Para terminar: Quando consegue encontrar algum trôuxa mais trôuxa que ele, o cachorrinho de estimação desse trôuxa se apaixona pelo estofado e é visto tentando cruzar com o encosto do banco, provocando assim,  a desconfiança do ex-futuro-quase-cliente, melando a negociação e obrigando-o afinal, a casar-se com o carro por mais alguns anos. Para compensar o prejuízo, vou ficar com ele; geralmente dizem para si mesmos. Em público jamais. Porisso quando ouvir um homem comentar a respeito de seu carro: - Passei muitos bons momentos com essa beleza, na verdade, está dizendo que pagou muitos micos por causa dessa bicheira. Ou se ele disser que esse carro nunca o deixou na mão, está querendo dizer que com esse carro nunca mais parou dinheiro na mão.

No sentido contrário da avenida, tinha uma loirinha que parou e desceu do carro para avaliar a situação; Pegou um par de luvas de borracha no porta malas e tapou o escapamento com uma luva, amarrando com elástico de cabelo e barbantes. Abriu o capô do motor e retirou o terminal vermelho da bateria. Cobriu com a outra luva e amarrou com saquinhos plásticos de supermercado. Feito isso, efetuou várias ligações pelo celular e depois foi embora com o seu guarda chuva, a pé, e cantarolando "singing in the rain".

Não me perguntem porque ela fez isso, porque pensar dá dor de cabeça. É coisa de mulher.
Ainda bem que somos mais práticos kkkkkkkk